quinta-feira, 31 de março de 2011

Uma escada, uma estátua e um dedo

    No vale do Anhangabaú, uma escada, uma estátua, um dedo.
    Uma escada no centro de São Paulo, me levando do vale ao teatro. Nem pequena nem grande, nem média nem mais ou menos, no ponto para ter na ponta uma estátua.
   Nessa escada passava uma fila de crianças, todas de uniforme,todas conversando, rindo e comentando sobre a estranha estátua.
    Uma estátua dramática. Ele está se matando? Ele está morrendo? Sofrendo? Eu não sei, só sei que um dedo está esticado.
    Um dedo, sortudo? Ou da sorte? Dizem que se esfregar a mão neste dedo terá sorte, ou muita sorte.
    Sabendo da lenda e como numa brincadeira, todas as crianças que passavam esfregavam a mão no dedo, algumas com esperança, outras só de brincadeira.
    E, agora, o dedo brilha desgastado de tanta sorte que deu.

(Crônica escrita em 2008 para o jornal da sala)

Colorindo a estação

    Uma garota saltitando pela estação atrás de um trem, seus ruivos cabelos esvoaçados ao vento pareciam fogo com o reflexo do sol. Ela me chamou atenção não só pelo contraste da pele de Branca de Neve com o cabelo, mas também pelas roupas coloridas que usava. A camisa listrada de um rosa e um amarelo bem claros junto com o seu short azul-bebê lhe davam um ar levemente infantil, mas seu objeto mais inusitado era a mochila, laranja meio rosada com florzinhas verde marca-texto que balançava a cada pulinho que ela dava, que me fez rir por alguns segundos.
    Esta garota foi saltitando para dentro do trem, foi embora junto com ele para seu mundo colorido e desconhecido, pela cinza plataforma que há pouco a garota coloria, me deixando só nessa escura estação.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Crônica


      Não há gênero mais tímido e modesto do que a crônica.
      Ela fica ali, quieta no canto do jornal,mostrando coisas simples e um tando insignificantes em comparação com as grandes notícias e tragédias das outras folhas.
      Mas a crônica tem algo que nenhum outro gênero tem: a sua impertinência. A impertinência de ignorar as grandes coisas e transformar em importantes as coisas que as pessoas normalmente não percebem .
      Seu narrador é um ser tão perto e pensante quanto a pessoa ao seu lado, ao contrário dos narradores de romances, que são deuses longínquos.
      Você pode achar que escrever uma crônica deve ser fácil, eu achava, mas para escrever uma boa crônica é preciso ter um olhar tão tímido, modesto e impertinente quanto a própria crônica, e isso não é nada fácil.